MISCELÂNEA DE ASSUNTOS – PARTE 2

Em continuidade direta ao texto anterior (que você pode ler clicando aqui), abaixo trataremos os assuntos pendentes e que não cruzam-se diretamente entre si: Ira humana, Idolatria, Escravidão, o Livro de Jó e, por último, Instituição da Família. Alguns podem ser mais breves do que outros, mas todos os temas têm, por objetivo, apresentar-nos o modo correto de julgar determinadas circunstâncias.

IRA HUMANA

É conhecida a passagem:

Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. (Efésios 4:26)

Paulo, porém, não tira isso do nada, ele está citando o salmo 4:4, na versão da Septuaginta:

Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai. (Salmos 4:4)

Tanto o Salmo quanto Paulo estão dizendo que na hora de dormir devemos sossegar-nos, e não prolongar a ira para o dia seguinte, pois o ódio prolongado produz pecado, e temos um exemplo prático disso nas Escrituras, uma história a qual nós, modernos, dizemos ser a fraqueza de Davi, mas que a Bíblia mostra ser sua força.

Em 2 Samuel 13 (o texto é longo pra que eu o transcreva), Amnom se deita com a própria irmã, Tamar. Tendo quebrado a Lei, conforme Levítico 18 e 20 especifica ser pecado, Amnom manda Tamar embora. Ocorre que Absalão (outro irmão de Tamar) e Davi ficam sabendo do caso, porém, ninguém leva o caso diante de Davi como testemunha contra Amnom, ou seja, embora Davi tenha conhecimento do caso, não podia julgar Amnom, visto que não havia, no mínimo, as duas testemunhas com coragem para irem contra ele.

Davi não era como Jezabel que, por pensar que um rei podia fazer qualquer coisa, decide tomar o campo de Nabote com falsas testemunhas em 1 Reis 21. Longe de Davi tal maldade. Antes, conforme o texto diz, Davi se ira muito (2 Sm 13:21), mas não é tolo, não desconhece a lei e, portanto, esquece essa falta para não praticar a injustiça. Absalão, contudo, alimenta o ódio contra o irmão (2 Sm 13:22), e o alimenta por dois anos inteiros (2 Sm 13:23, 28, 29). Claramente Davi não deixou o dia passar com sua ira sendo alimentada. Absalão, por outro lado, manteve sua ira acesa, não aprendeu com Deus, cuja ira contra os seus não dura para sempre (Sl 30:5).

Ora, em Gênesis aprendemos que a ira permanente ou prolongada é motivo de querer assassinar (Gn 27:45), então o que podemos fazer? Aprender a não guardar ira ou rancor, pois estas coisas nos levam a querer o fim de quem pecou contra nós ou que falhou socialmente.

IDOLATRIA

Já, em vários textos, aventamos o fato de que na Bíblia a “idolatria” não é o que chamamos habitualmente de idolatria, algo também influenciado pelos conceitos filosóficos de virtude e vício e que foi trazido pelos filósofos para dentro da teologia na medida em que o Cristianismo se sedimentou. Em termos práticos, não existe na bíblia qualquer coisa que seja idolatria por eu a amar muito (eu sei que você pensou em Mamom ou no dinheiro, mas chegaremos lá). Inclusive, a escrita do Primeiro Mandamento não inclui amar outros deuses, e sim tê-los como deuses (Êx 20:3) – pois, como a história é farta de evidência, os povos não amavam seus deuses, e eventualmente até os odiavam, prestando-lhes culto apenas por medo de que sofressem em suas mãos alguma derrota ou perda de alimentos e chuvas. Evidente que, por proibir ter outros deuses Deus está proibindo amá-los, e se você amar alguma outra divindade, logo, está a tendo por deus no lugar do Deus verdadeiro – se você não pode ter outro deus, muito menos pode amá-lo, mas o mandamento não foi escrito pensando em amor.

De qualquer modo, e em primeiro lugar, tudo o que importa para entendermos a idolatria é que não podemos trazer, para dentro do conceito, nada que seja especificamente sobre forte amor a um objeto ou pessoa, apenas a prestação de culto está em vistas no primeiro e segundo mandamentos. Ora, o que fazemos das três passagens que parecem mais evidentemente vincular idolatria ao amor intenso?

Obs.: como mostramos no nosso texto anterior, eventualmente o amor intenso aos bens e propriedades pode causar violência, opressão e semelhantes, porém, em nenhum momento chamamos (ou a bíblia) chama isso de idolatria per se. Veremos abaixo.

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. (Mateus 6:24)

Primeiro erro que precisamos desfazer: Cristo está falando para um grupo de pessoas que se orgulhava de servir somente a Deus e que não tinham outra divindade. Ora, Cristo não pode estar acusando-os de adorar uma divindade chamada Mamom, pois os judeus deste período criam ter aprendido a lição de terem somente um Deus; contudo, o termo Mamom aparece no Targum Onkelos de Êxodo 18:21, e será muito útil o olharmos. O texto literalmente diz:

Busque dentre todo o povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que odeiem a Mamom (מָמוֹן) [avareza, lucro]; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinquenta, e maiorais de dez; (Êxodo 18:21)

Ora, por qual razão então Cristo se vale de um termo que aparece em partes referentes à autoridades? (Jz 5:19; 1 Sm 8:3 – Targum Onkelos e de Jonathan). Ou melhor, sabendo que as autoridades judaicas já se valiam do termo em sua época para se referirem à estas passagens, por que Jesus utiliza tal termo?

A razão é clara, Mateus 5-7 precisa ser entendido como Cristo se direcionando não ao povo comum, mas às autoridades, razão do porquê ele menciona julgamento (7:1), buscar a justiça do Reino (6:33), e todo o contraste que Jesus põe em contrapartida é feito em torno de outras autoridades (6:2, 5; 5:20). Se não bastasse, Cristo estava ensinando seus discípulos a liderarem, e o sermão do monte veio para isso, pois o fim a que se destinava tal sermão não era a multidão, e sim os que posteriormente liderariam as igrejas (Mt 5:1). As multidões o ouviram, mas a nota final sobre o sermão de Cristo mostra que até ele mesmo falava em termos autoritativos (Mt 7:29).

Assim sendo, quando ele fala de “Mamom”, não está falando de uma divindade, mas do dinheiro que autoridades recebiam para perverter a justiça, motivo pelo quê vemos isso também em Êxodo 18:21. Ora, o homem que ama ao suborno, não ama a Deus, pois não ama sua justiça, e é cego no seu julgamento (Êx 23:8); aceitar suborno é amar o dinheiro e não a Deus (1 Sm 8:1-3; Ne 6:12; 2 Cr 19:7 [em todos estes textos e mais outros o suborno é oposição a Deus]).

Portanto, qual a nossa conclusão óbvia? Cristo fala para homens que julgam, e os que julgam têm a responsabilidade de lidar com os casos sem amarem o suborno. Neste caso, Cristo não está falando de amar a divindades, antes, está falando do que já dissemos: amar o dinheiro leva à disputa, falso testemunho, dissensão. O assunto do texto não é idolatria, mas servir a Deus ou perverter seu juízo (não o amando, como consequência).

Não fique triste que Mateus 6 não foi escrito pensando em você, “cristão comum”, antes, fique bem feliz – embora deva praticar o que dali se deduz ser a prática da justiça, você não tem o papel de julgar nada em particular.

Mas as coisas não acabam aqui, e por isso vamos para os outros dois textos:

Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; (Colossenses 3:5 [cf. Ef 5:5])

Então, passam como passa o vento e seguem; fazem-se culpados estes cujo poder é o seu deus. (Habacuque 1:11)

Muito simples o texto de Habacuque: qualquer comentarista mais simplório vê isso, e a tradução da ARA (e NVI) é que deixou passar uma coisa errada – o texto diz, na realidade, que estes homens atribuem o seu poder ao seu deus. Alguns dirão que pode ser traduzido do modo como a ARA fez, o que é verdade, afinal, os tradutores não erram de propósito e sem motivo concreto. Mas supondo que o texto diga que o poder é seu deus, ainda assim, o resulto seria similar: ele não estaria falando de que adoram o poder que têm, mas que o poder deles é o deus deles, isto é, assim como o “Senhor é a nossa força”, eles diriam que “tal poder é o deus deles”.

Contudo, mais complicado se mostra o texto de Cl 3:5 e Ef 5:5. Já o explicamos em nossos textos sobre falsos pecados, mas aqui cabem observações pontuais e diretas:

Primeiro, Paulo utiliza um termo grego que implica violência, ou seja, “avareza” não é a melhor tradução, e sim “aquisição de bens à força”. É o mesmo termo que Josefo usa para se referir ao ataque aos judeus no período Macabeu – πλεονεξία, isso é o que nossas bíblias traduzem como avareza ou cobiça.

Segundo, tendo em vista isso acima, é óbvio que só poderíamos caracterizar um amante do dinheiro como idólatra somente quando passasse a utilizar da violência para a aquisição. Assim sendo, dois fatores estão unidos aqui: violência e amor ao dinheiro. Não, não é o amor ao dinheiro que Tiago fala ser a fraqueza daqueles cristãos, é algo a mais, e muito mais intenso: ódio misturado ao amor – ódio pelo próximo enquanto amo meus bens.

Terceiro, não sabemos com clareza como Paulo chegou a este raciocínio. Por exemplo, na Septuaginta vemos o termo ocorrer em passagens como Ez 22:27, Jr 22:17 e Hc 2:9, todas as passagens claramente vinculando o ganho desonesto à violência. O certo é que ele não chama de idólatra a ninguém que só ame o dinheiro demais. Portanto, se é verdade que idolatria envolve violência, então algo só pode ser idolatria se envolver violência e não somente um amor forte por aquilo – contudo, mesmo isso é frágil, já que só o amor aos bens com violência é que é chamado de idolatria.

Por fim, não é a violência somente que está em mente, pois as passagens que citamos incluem uma aquisição sem fim (Is 5:7, 8), a ponto de nada restar de propriedades para os outros, depois de matar os inocentes.

Ou seja, não estamos falando de coisas absolutamente comuns atualmente, porque, o único caso de idolatria que foge ao padrão bíblico exige muitas ações extremas para ser classificada como idolatria. Novamente, é difícil saber o percurso mental de Paulo até este ponto, contudo, é evidente que para ele idolatria não é qualquer intriga ou amor ao dinheiro no nível em que trata com Timóteo, por exemplo. Antes, para ele só há idolatria no amor ao dinheiro quando ele resulta em violência seriada, com os bens sendo adquiridos à força, sem querer deixar para mais ninguém as propriedades. Evidentemente, não é só em dinheiro que Paulo está focando.

Talvez, depois de você notar que a idolatria não é nada do que normalmente é mencionado hoje dirá: “Mas se tal coisa não se aplica a mim a escritura se torna inútil”.

Mas o texto precisa dizer algo pra mim?

Ora, quem colocou na sua cabeça que a escritura precisa dizer algo para você foram os mesmos pregadores que querem aplicar cada passagem e palavra da bíblia à sua vida. Isso não existe na própria bíblia, razão do porquê profetas só surgiam de tempos em tempos, quando os hebreus começavam quebrar a lei, a fim de que o texto seja aplicado a eles. Isto é, se você não está naquele contexto de quebra da lei, o profeta para te acusar seria desnecessário, tanto quanto a lei se tornaria desnecessária, já que ela foi escrita para os pecadores (1 Tm 1:9).

Neste caso, amo o fato de não ter que orar como o salmista, contra inimigos que o queriam matar. E, por conta disso, o salmo nada me diz? Ora, ele diz o que diz: que é uma bênção não ser perseguido, assim não preciso sempre viver em desespero e em orações angustiantes a Deus. Que bom que não mais precisamos dos alertas contra os judaizantes de Gálatas, pois poucos há que querem nos circuncidar e, quando algum destes aparece, até as crianças sabem que não precisam disso. Que bom que não preciso dos alertas contra a prostituição cultual, pois poucos hoje sabem o que é/foi isso. Então, do que você reclama? A Escritura e o texto estão dizendo o que você precisa saber, não necessariamente tudo o que precisa fazer ou deixar de fazer. Mas sigamos ao segundo mandamento ainda no assunto da idolatria:

O SEGUNDO MANDAMENTO

Todo mundo briga demais neste ponto. Os argumentos são coisas como: “não se pode fazer imagens de Cristo, pois não sabemos como ele foi” ou “não podemos fazer imagens de Cristo porque se o desenho representa a parte humana estamos o dividindo, e se representa ambas as partes, então estamos mentindo e transformando a divindade em forma humana”, ainda “mas Deus autorizou fazer imagens ao ordenar a imagem dos querubins sobre a arca” ao que respondem, “os querubins ficavam ocultos e foram a única imagem autorizada”. No fim, ninguém lê mais o texto, todos só olham os argumentos e querem ser parte de um grupo. Vão se lascar! Voltemo-nos ao último problema:

“Os querubins ficavam ocultos”. Ora, se você ler o mandamento de Deus ele diz: “Não farás para ti escultura” (Êxodo 20:4), e até onde eu saiba, os querubins não caíram prontos do céu. Dizer que este é o único caso em que Deus permite imagens do céu porque os querubins ficavam ocultos é como dizer que se eu me vendar e apagar as luzes, não cometerei adultério ao me deitar com a mulher do próximo. É tanta burrice que não faz sentido. Evidentemente os querubins não têm nada a ver com este debate, para quem é contra o uso de imagens.

Dizer que Deus autorizou imagens de querubins também é burrice, a fim de defender o uso de imagens. Ora, Deus ordenou tantas coisas no AT, que no NT foram abandonadas na prática externa, que este argumento, tão logo viramos a última página do AT, perde valor. Afinal, no NT não há mais templo físico e arca, se Deus autorizava antes, agora não mais, e o princípio cai por terra.

Mas logo em seguida vem o intelectual que diz que imagens de Cristo separam a sua natureza. Parece um caminho sem saída, afinal, quem é o louco que dirá que Cristo está sendo completamente representado na imagem, contendo na imagem a própria divindade de Cristo? Que alegria! Graças a Deus uma imagem de Cristo não é o próprio Cristo em nenhum sentido, tanto quanto uma imagem sua não é você, e nem pode representar você completamente – nem por isso você é menos humano na imagem representada, embora não represente sua humanidade. Se fere à divindade de Cristo e à sua humanidade, também fere à nossa humanidade e nossa alma fotografias e pinturas nossas. Este argumento é típico de quem quer testar os outros, tal qual os fariseus faziam com Cristo.

Mas vejamos o mandamento agora:

Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. (Êxodo 20:4)

Se eu tomar como padrão o jeito como nos ensinam a ler o mandamento, devo deduzir que nenhuma imagem, mesmo de um animal terrestre, pode ser feita para nenhum fim. O texto, se você disser que proíbe fazer representações de Deus nessas imagens evidentemente fará sentido; porém, como você faz ele proibir qualquer imagem de Cristo? Se você disser que o texto tem fins “religiosos” somente posso então fazer uma imagem de Cristo sem fins religiosos. Mas veja, Moisés nos proíbe de fazer imagem de qualquer coisa e, logo em seguida diz em que sentido tais coisas são proibidas:

Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso […](Êxodo 20:5)

O texto é simples assim: qualquer imagem que for feita para nos prostramos diante dela, quer seja de Deus ou não, rompe este mandamento. E não, não há qualquer distinção filosófica aqui entre latria e idolatria, antes, o texto simplesmente não aceita o “prostrar {para orar, pedir favor etc.}” e nem o “prestar culto {cantar louvores, adorar}”, de forma que, de uma só vez, o texto contradiz tanto os proibidores de imagens quanto os católicos romanos. O que nos leva ao próximo ponto:

As imagens nunca foram utilizadas nas Escrituras com o fim de ensinar ao povo sobre Deus. Ora, é evidente que utilizamos imagens para ensinar: assim as utilizei para mostrar pirâmides; eventualmente as uso para elevar um sentimento de grandeza ou algo que o valha em um determinado momento que quero causar uma impressão específica sobre mim mesmo. Contudo, por mais transcendental que tal coisa pareça, e por mais que pareça ativar os maiores recônditos da alma, é evidente que isso não é no sentido teológico em que Deus fala conosco, de forma até muito corriqueira e simples, tal qual: “não matarás”. É Deus falando, é transcendental, mas não é nada demais em termos de impressão “na alma”.

Não quero dizer que seja pecado usar imagens para ensinar assuntos teológicos. Ninguém se prostra ou ora a uma imagem de Cristo num livro sobre a história da sua morte e ressurreição – eu pelo menos nunca vi isso. Mas certamente a mensagem do “bem-aventurados os que não viram e creram” e “como crerão se não ouvirem” numa época em que imagens estavam por todos os cantos, e em todas as casas, mostra que a fé de Cristo nunca foi visual. Para mim, portanto, resguardo qualquer julgamento, mostrando que apenas quem ora ou louva à imagem é que falha na prática do mandamento, e não quem a vê ou mesmo a utiliza para se “ensinar” (só uma prática filosófica), e nem quem a desenha ou esculpe, ou ainda interpreta. Imagens são só isso, imagens.

Obs.: todo mundo devia saber que séries e filmes sobre Cristo não representam a realidade: e isso é para bater tanto em quem é a favor como em quem é contra – por natureza não é possível representar a bíblia em séries/filmes, o que não quer dizer que seja pecado. Ao mesmo tempo, quem defende isso com unhas e dentes está brigando por nada, uma coisa justamente que não é a própria escritura. Assim, ficam ambos brigando e criando inimizades, apenas porque uma série/filme boba(o) está sendo visualizada ou não visualizada.

ESCRAVIDÃO

Um assunto que perturbe mais os neocalvinistas e planos políticos modernos do que este é difícil de encontrar. E isso é porque este povo pensa que a Escritura oferece respostas sociais para problemas sociais, o que é um erro absurdo – do mesmo modo que quem defendia a escravidão e utilizava a escritura e falhava miseravelmente, pois a escritura não oferece base para a escravidão. Então, o que a Escritura diz?

Em primeiro lugar, ela não diz que escravidão é pecado. Nunca o foi. Do contrário, Deus não usaria a relação de senhor-escravo para expressar sua relação com seu povo, muito menos a regulamentaria em sua lei. Agora veja, o fato de ser regulamentado prova que não é pecado, mas ao mesmo tempo não prova que é o que desejamos ou que seja o melhor.

Em segundo lugar, a escravidão nas Escrituras é extremamente limitada, e isso é visível nos textos como o “olho por olho e dente por dente” que dizem que ferir o olho do escravo implica em libertação instantânea (Êx 21:26). A escritura está ao mesmo tempo dizendo duas coisas em Êxodo 21:26: não é pecado ter escravos (do contrário, Deus simplesmente proibiria), mas reconhece que a liberdade é valiosa, e por isso a restituição para um escravo ferido é a liberdade.

Em terceiro lugar, a Escritura tem a intenção de limitar a escravidão ou até por fim a ela somente entre o povo de Deus. Isso não quer dizer que ela exija que as outras pessoas tenham escravos ou sejam escravos do povo de Deus, antes, na realidade, ela pouco se importa com isso, de modo que se a sociedade decide acabar com a escravidão, a escritura não lhe falará nem bem e nem mal. Mas qual prova a escritura dá de que só se preocupa com a escravidão entre seu povo?

“Se você comprar um escravo hebreu, ele o servirá por seis anos. Mas no sétimo ano será liberto, sem precisar pagar nada”. (Êxodo 21:2; cf. Dt 15:12-17)

Ora, é aqui onde se prova que Deus jamais proibiu a escravidão, tanto que ele diz que, se o escravo amar ao seu senhor, pode permanecer escravo por toda a vida (Dt 15:16, 17). Contudo, é aqui mesmo que Deus mostra que é mais valiosa a liberdade, isto é, a cada sete anos há uma liberação geral de escravos hebreus. Essa lei valia somente para os hebreus e mais ninguém, provando que Deus não queria que o próprio povo fosse escravo, pois já havia sido escravo no Egito, tendo assim sido comprado para a liberdade (Dt 15:15).

Leia Jeremias 34:8-17 e veja que Deus tinha por objetivo que entre os hebreus jamais prevalecesse a escravidão, e sim a liberdade de Cristo.

Obs.: muitos dirão que a escravatura antiga era diferente da moderna, porém, essa leitura é um péssimo reducionismo das duas escravidões. Tanto a Antiga possuía terrível maldade quanto a moderna nem sempre era tão má quanto querem fazer parecer. A pior parte da escravidão, de fato, era dupla: tanto a violência (que já vimos que a lei reprova) quanto o rapto são coisas inaceitáveis por Deus. Inclusive, Deus considera que o rapto com venda um pecado gravíssimo (Dt 24:7), pecado este cometido pelos irmãos de José, e que eles mesmos reconhecem (Gn 42:21, 22). Aliás, se a escravidão antiga não possuísse esse tipo de violência não faria nem sentido a própria Lei exemplificar o olho por olho justamente com o escravo.

Por fim, quando chegamos ao NT vemos que Paulo diz:

Pois aquele que foi chamado no Senhor, mesmo sendo escravo, é um liberto do Senhor; e assim também o que foi chamado sendo livre, escravo é de Cristo. Por preço fostes comprados; mas não vos façais escravos de homens (1 Coríntios 7:22,23; cf. Lv 25:39, 40)

No mesmo argumento de Deus com os hebreus, diz Paulo que os crentes não devem se fazer escravos de homens, visto que tal escravidão contraria a liberdade conquistada em Cristo. Isso, contudo, não anula a escravidão e Paulo não diz ser a escravidão um pecado (eventualmente poderia ser até mesmo o pagamento por algum pecado – Êx 22:3).

Mas mais ainda nos interessa o caso de Paulo e Filemon. Pensa que Paulo repreende a Filemon por ter Onésimo como escravo? De modo nenhum, antes, instrui a Onésimo que retorne para Filemon, embora quite todas as dívidas de Onésimo, provando que Paulo mesmo queria a liberdade de Onésimo, contudo, sem acusar Filemon de qualquer pecado (Fm 1:16-19).

Por todos os meios, as Escrituras dão uma resposta relativa à escravidão apenas em conexão com os crentes, e não para as pessoas em geral, que administram ao mundo como acham melhor, e isso, se resulta no fim da escravidão, não deve ser visto por nós como problema, antes, todos estão desfrutando de algo que entre os crentes era estimulado. Devo reclamar porque todos recebem o bem? De modo algum. Apenas não queremos que falsos julgamentos sobre os homens venham com ar de piedade e liberdade.

Pare de usar as Escrituras como livro-texto de solução para problemas sociais. Ela nunca pretendeu ser isto. Mas também, não me venha dizer que ela é a favor da escravidão, pois apenas não a condena como pecado, e não desenvolve nada mais em torno disso.

Obs.: muitos irão extrapolar este ponto para dizer que, se a Escritura diz que a escravidão não é pecado, mas a desestimula entre os crentes, então desestimula ela totalmente. Pra nós tanto faz o que você pensar neste ponto, porque na realidade a escritura nunca falou disso de modo universal, mesmo que você tente deduzir algo neste sentido. Mas se você é pessoalmente contra a escravidão de modo universal, que o seja, graças a Deus.

LIVRO DE JÓ

As pessoas não sabem ler a literatura de sabedoria e poética, e darei alguns exemplos antes de entrar no livro de Jó (no qual serei brevíssimo): Provérbios é um livro sobre aconselhamentos gerais e com forte ênfase em evitar-se o adultério – a mulher “estranha” em Provérbios é sempre a mulher de outro homem. Em Salmos, contudo, o pecado mais presente é a violência dos ímpios e o falso testemunho comum que usavam para tentarem fazer o crente morrer (algo que de fato fizeram com Cristo). Raramente você verá no salmo qualquer coisa sobre a área sexual, pois não se propõe a isto: enquanto Provérbios tem ênfase em “Não Adulterarás”, os salmos falam mais de “Não Matarás” e “Não dê falso Testemunho contra o próximo“.

Tendo dito isso, devemos entender que Jó, embora mencione por alguma razão outros pecados a serem evitados, gira em torno de um em específico: a quebra do terceiro mandamento – não blasfemar a Deus. E, bem, já ouvi pastores dizerem que Jó blasfema a Deus ao amaldiçoar o dia que nasceu, contudo, não é isso que Deus mesmo diz de Jó e nem Tiago. Mas chegaremos lá. Primeiro veja a introdução do livro.

A preocupação principal do livro é com o que Jó e seus filhos falam contra Deus (Jó 1:5 [‘amaldiçoaram a Deus no coração’]; 1:11, 21, 22; 2:5, 9, 10). Depois, boa parte do livro e da discussão dos amigos de Jó com ele é em torno de coisas que Jó fala e que lhe atribuem loucura. Contudo, até o fim do livro Jó é considerado inocente por Deus, de modo que ele é usado por Deus para fazer sacrifício pelos amigos que o acusaram falsamente.

Conquanto Deus ponha Jó no lugar dele, isto é, de humano, os questionamentos de Jó a Deus não implicaram a quebra do mandamento, de modo que o livro ensina até que ponto alguém pode se revoltar sem quebrar o terceiro mandamento, e por isso Tiago diz que Jó foi paciente (Tg 5:11). Isso quer dizer que quando Jó amaldiçoa seu nascimento, ele faz só isso mesmo, e não precisamos tirar conclusões lógicas de que “amaldiçoar o nascimento é o mesmo que amaldiçoar a Deus, pois Deus é quem nos faz nascer”. Ora, nem Deus mesmo considera assim, portanto, enquanto um homem amaldiçoa um evento, objeto ou algo semelhante, Deus não se preocupa com isso, e nem mesmo se importa, visto que não fere o terceiro mandamento.

Diferente, porém, foram os judeus sobre os quais o império romano desceu para atacar, que sofreram as pragas derramadas pelos anjos (Ap 16:8, 9 [a palavra “Terra” na Bíblia é usada para se referir, geralmente, à terra de Israel, e não ao “Planeta Terra”, como costume mais moderno]). Estes homens amaldiçoaram a Deus ativamente, como qualquer homem no passado fazia, quando seus deuses não lhe dava libertação do sofrimento. Só homens como Jó é que, embora sofrendo e reclamando, jamais amaldiçoou a Deus.

Obs.: o texto de Ap 16 claramente fala de Israel, pois quem derramou sangue de profetas e santos não foram os romanos, e sim os judeus (Ap 16:4-7; Lc 11:50, 51 [note que se fala ‘desta geração’, da época de Cristo]; Mt 23:30, 31). Portanto, Apocalipse 16 não fala de um futuro cataclísmico do fim do planeta Terra, mas sim de uma terra em particular, que era responsável pela morte dos profetas.

INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA

“A Instituição da Família está sendo atacada” é o discurso comum a vários grupos políticos e religiosos. Mas e se eu te disser que na Escritura não existe “Instituição da Família”? Na verdade, não existem instituições – o que não significa que sejam pecado. A pergunta que sobra é o que a Bíblia realmente estabelece em termos familiares, e a resposta é simples: Deus estabeleceu autoridades, e não instituições – embora os termos possam ser quase correlatos atualmente, eles não significam a mesma coisa.

Vou exemplificar: Deus instituiu reis ou uma forma de governo (monárquico)? Deus instituiu reis, e a forma de governo apenas era uma consequência natural do processo autoritativo que Deus executou. Deus instituiu a família ou a autoridade paterna e marital? A autoridade paterna e marital seria a resposta. Como sabemos disso? Sabemos disso, pois em Gênesis o desafio que Deus ‘enfrentou’ não era: ‘precisamos de uma família’, mas ‘não é bom que o homem esteja só’. Deus já tinha feito o homem, e por ter criado o homem, este era a autoridade (Gn 2:18; 1 Co 11:3, 8, 9; 1 Tm 2:12, 13), porém, como autoridade, ele não encontrava um par capaz.

Paulo nunca argumentou que a família tinha que ser preservada, pois tal conceito seria estranho a ele. Ele conhecia vários modelos familiares que não correspondiam a um tipo institucional romano, por exemplo. Neste caso, Paulo conhecia “clãs”, e clãs eram compostos por um homem, esposas (no plural), ou mulheres que viviam em conjunto, avós e, frequentemente, alguns eram tão grandes que facilmente poderiam constituir, sozinhos, um bairro.

Nós vemos a família como o Estado romano, com o seu objetivo de dominar, a estabeleceu: um homem, uma mulher, e algum nível de autoridade compartilhada… as Escrituras veem a família apenas como uma consequência natural da autoridade do homem, e não como uma instituição em si.

Obs.: muitos olham pra Gênesis 1 e 2 e veem a instituição da família, mas, como já demonstramos em nosso texto sobre a “Submissão da Mulher em Gênesis”, o que Deus quis fazer foi estabelecer autoridades. Interessante que olham para Gênesis 1:28 e dizem: “É obrigatório o homem se casar”. A isso podemos dizer com a coragem que o texto dá: “Então é obrigatório você dominar aves, peixes e animais terrestres, vá lá os dominar, pois esta ordem está vinculada no mesmo versículo”, claramente darão respostas espiritualistas, sem reconhecer que Gênesis 1:28 é uma ordem geral, e não um mandamento.

Além disso, herdamos dos romanos os complexos sexuais, isto é, o medo do sexo. O assunto era tão absurdo entre os romanos, que o tema do sexo e do casamento era barreira para muitos se converterem ao Cristianismo (já citamos isso no texto sobre a Poligamia na Lei de Deus – Parte 2). Portanto, abaixo desenvolveremos três pontos que serão necessários para a compreensão do que quero abordar: O bloqueio às festas de Baco; Platonismo e amor sem sexo como ideal; Vesta e a pureza sexual.

O Bloqueio das Festas de Baco

Por volta do ano 186 a.C., a Bacanália foi proibida na Itália e alguns lugares do Império Romano. A razão é bem simples: os romanos odiavam orgias (não foi por causa do culto que a festa foi proibida). E, conquanto ela tenha sido substituída pela “Liberália”, na qual havia certa liberdade para expor o corpo, não havia comparação entre uma e outra. O fato é que, de todos os modos, os romanos tinham muitos complexos sexuais. Esses complexos foram uma bênção no que diz respeito à proibição das “orgias” e sexo cultual, razão do porquê muitos que cultuavam a Baco o faziam à noite, às escondidas das autoridades romanas (Rm 13:11-14 [note o contexto claramente estatal de romanos 13]). Contudo, note que Roma queria controlar o sexo, algo que você só vê em certo sentido entre os hebreus no que diz respeito ao próximo e ao culto sexual.

Vesta e Pureza Sexual

A principal divindade romana (da qual já falamos em outro texto) era Virgem, sempre virgem. Isso pode explicar muita coisa, mas queremos nos focar apenas em uma: para o romano a castidade era um dos bens mais preciosos que alguém poderia ter, mesmo que, socialmente, ela não fosse tão praticada. Ainda assim, o ideal era a “pureza sexual”. Pureza essa que foi enamorada pelos cristãos, que trouxeram a filosofia greco-romana para a igreja, junto com todas as preocupações sexuais e vontades para celibato. Roma tinha medo do sexo ou o controlava para fins institucionais.

Platonismo e Amor não Erótico

Mas podemos ir além: a maior parte dos professores e mestres, por exemplo, na época de Agostinho (e ele próprio) era platonista ou esposava alguma variante do platonismo. Contudo, o que não te contam, é que no passado uma perspectiva filosófica era quase como uma religião (não o cristianismo): ela expressava tudo o que alguém deveria crer, imaginar e estudar e como se relacionar com as coisas. Não sem motivo, ascetas não só criam que a matéria deveria ser superada, mas ainda viviam como se todas as emoções de nada valessem – era um modo de vida.

Pois bem, agora que você entendeu isso, o que é preciso perceber? Simples: Platão ensinava que o modo mais elevado de amor é o amor assexuado, sem toque, sem expressão corporal. O amor sexual para ele é bom entre marido e mulher, mas isso não é o melhor amor. Ou seja, se quisesse amor de verdade, a relação sexual seria inalcançável. E aí vem o problema: podemos dizer que isso é verdade? Não, não podemos. Mas você entenderá mais abaixo.

O amor, para o romano inteligente, precisava estar de algum modo desconexo do sexo, e o sexo era apenas um mal necessário, algo impuro e que existia apenas para a reprodução. Burros que foram precisaram até criar um imposto para que os jovens se casarem cedo (ou seja, quem não se casasse pagaria imposto) e também sobre quem não tinha filhos. Você acha que as pessoas “demoram” casar hoje? Pois é, não viu os romanos… de quem herdamos praticamente tudo.

OS PROBLEMAS QUE ISSO CAUSA

Conquanto seja praticamente impossível rastrear a origem dos complexos romanos com a sexualidade, é verdade que herdamos estes mesmos complexos, e hora os afrouxamos mais ou os apertamos mais, quase que em uma reação dialética. Porém, os desejos sexuais não deixam de existir.

Mas agora perceba, tudo isso é visto como um ataque à instituição da Família, é um problema que, em outras épocas, se tornava problema do Estado em relação à família. Nas Escrituras, porém, quando uma mulher adultera, o que é dito? A família está sendo menosprezada? De modo nenhum, pois não existe isso na Escritura; lá, é a honra do marido que é atacada, pois Deus criou autoridade familiar, e não a instituição familiar.

Assim, quando alguém tem uma vida sexual ativa hoje, essa pessoa ou é classificada como um perigo para a família ou é simplesmente excluída das relações comuns da vida. Tal coisa é vista como aberração e ‘crentes e descrentes’ tentam silenciar pessoas deste tipo (leia nosso texto sobre Prostituição e Pornografia). Se você é uma prostituta, você não é um perigo para a família, pois a escritura não estabelece tal padrão familiar que imaginamos. Nosso pensamento é como se uma coisa fosse oposta à outra, quando na verdade apenas são diferentes.

Ora, dissemos várias coisas, mas qual a aplicação prática de saber que a família não é uma instituição? Muitas são as aplicações: primeiro, o conceito de família institucional é estatal, e dá ao Estado o poder de gerir; o conceito familiar bíblico é autoritativo, e o pai é que é o responsável; segundo, qualquer questão sexual é vista como ataque à família; no caso autoritativo, poucas são as violações sexuais que existem (pois se vinculam à honra do marido); terceiro, os limites familiares institucionais são muito menores do que os limites da autoridade paterna (veja nossos textos sobre Poligamia).

De todo o modo, como bons herdeiros romanos, somos culturalmente contra exposição sexual e aceitamos modelos familiares extremamente estritos. Até o nosso problema com o “sexo entre duas mulheres” é algo herdado dos gregos, e não do cristianismo, que não teria nada a dizer sobre o sexo entre duas mulheres, visto que a bíblia não trata disso (em nosso texto sobre Poligamia no NT explicamos bem o único texto que parece apontar que duas mulheres se relacionarem é pecado). Apenas a homossexualidade masculina seria condenada no nosso meio, se herdássemos a “cultura cristã”, ao invés da cultura greco-romana.

Novamente, os assuntos podem não parecer conexos, mas abaixo mostraremos novamente como estão conectados.

CONCLUSÃO

Quando se fala de ira humana, todos sabem que podemos irar, mas não pecar. Contudo, quando falam sobre Davi e seu filho Amnom, simplesmente ignoramos, e julgamos a Davi o condenado (como muitos fazem com o fato de uma moça jovem ter sido noiva de Davi no fim de sua vida – como se isso fosse um pecado [mais complexos sexuais herdados]). Então, na realidade, isso foi para fazer justiça a Davi, cujo pecado foi o assassinato e adultério, e não o ser um ‘péssimo pai’.

A idolatria, porém, já é a acusação mais frequente por parte de reformados. Qualquer coisa é idolatria para eles. É como se o mundo fosse um caos idólatra sem fundo, afinal, o coração seria uma fábrica de ídolos. Mentirosos! Acusam você de vícios como se fossem idolatrias. Vícios estes que são meramente filosóficos, e não encontram proibição na escritura. Condenar injustamente é sofrer.

A escravidão é mais um destes temas, afinal, se você apenas não a condenar é considerado o maior defensor ferrenho da escravidão negra – mesmo que você considere uma bênção o fim da escravidão. Ora, tais homens apenas odeiam os outros, e dão forma ao seu ódio teologicamente, exatamente como faziam os fariseus com Cristo. Você ser condenado por estes é, na realidade, certeza de acerto, visto que não sabem julgar fora do ambiente cultural em que vivem.

Jó também é acusado falsamente. “Falou besteiras” dizem, “pecou com os lábios”, afirmam. Mas tal mentira só existe para os homens sensíveis, e que acham que ser educado é ser crente. Antes lhe digo, Deus nunca condenou Jó, e ele ainda é posto como sacerdote para os amigos deles, estes, que o acusaram falsamente como atualmente acusam a Jó. Desconhecem a Lei de Deus, e por isso julgam como se pudessem falar qualquer coisa, caindo no erro que dizem condenar.

E por fim, não menos importante, a família é vista com uma instituição tão fechada, que o namoro em si é visto como violência e roubo. Julgam os crentes poligâmicos, e pior, como Calvino chegou a dizer, em favor da própria filosofia, “Moisés não poderia ser ímpio de ter duas esposas”. Ora, Calvino, foi o pai da Fé que você disse professar monogâmico? Se a fé, que veio antes da Lei é poligâmica em Abraão, por que razão protesta diante da graça ao mesmo tempo que diz defender a Fé e a Graça? Poderíamos ir além, porque ao dizer isso, condena todos os crentes do AT que aprovavam na realidade a isto, e insere uma novidade que os pais da igreja, herdeiros gregos, inseriram na igreja. Eles, de fato, são os pais da igreja, dessa igreja aí que ensina vários erros, e continua a persistir nos mesmos, apenas tendo sido reformados e recebendo uma nova face. Se você não é convencido pelo poder eclesiástico unificado, o será pelo disperso – tal é o erro que estes homens apenas deram cara nova.

De qualquer modo, por que somos julgados? O somos porque os homens amam a própria cultura demais, e se pudessem, nos fariam não existir. Contudo, aqui estamos nós, contra todo este ódio gratuito e que não encontra, na Escritura, nenhuma base. Se é pra odiar, odeie o assassino de inocentes. A escritura permite que você odeie, basta ver os salmos. Então, seja corajoso, mas não finja ser corajoso lutando contra aquilo que não é pecado. Se quer um objetivo de vida, não me venha com esses objetivos teológicos fajutos. Seja livre. Pratique a Lei de Deus.

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