Jacob Urging Leah and Rachel to Flee from Laban - Poligamia na bíblia

POLIGAMIA NA LEI DE DEUS – PARTE 2

Sabemos que além do que se trata na Lei de Deus há os argumentos econômicos, culturais, históricos e até teológicos para explicar a razão de haver Deus permitido a poligamia masculina e – supostamente – ter proibido depois. Na parte 1 deste texto (Aqui – é essencial que leia a Parte 1 antes de continuar a leitura abaixo) tratamos de como a Lei bíblica defende ativamente a poligamia, contudo, defendemos o assunto somente em sua estrutura interna, da Lei. Fizemos assim porque mesmo o Novo Testamento diz que o pecado é a transgressão da Lei (1 Jo 3:4) e sem lei não há pecado (Rm 4:15 [ou seja, se Deus não proibiu, não é pecado]), então, nada mais natural do que tratar da poligamia na Lei de Deus primeiro. Contudo, surgem vários questionamentos externos à lei para buscar explicar o porquê Deus permitiria a poligamia naquela época e, magicamente, teria proibido depois…

No texto abaixo daremos mais um passo para provar que Deus nunca intencionou proibir a poligamia masculina, antes, nós é que fomos, por causa de certas circunstâncias e más interpretações, jogados nessa leitura cultural da bíblia. Como nossa preocupação é o texto bíblico, deixamos os textos separados em duas partes para não se estender demais em um único e também ser possível notar os argumentos mais claramente – embora busquemos ser o mais breves possível, e não focar em nuances bobas. A seguir, organizamos o tema em certos tópicos com respostas curtas.

CULTURAL

Novamente, Jacó, filho de Isaque, é acusado de ter cometido um grande crime porque tinha quatro esposas. Mas aqui não há fundamento para uma acusação criminal: pois uma pluralidade de esposas não era crime quando era costume; e é um crime agora, porque não é mais o costume. Há pecados contra a natureza, pecados contra os costumes e pecados contra as leis. Em qual desses sentidos, então, Jacó pecou ao ter uma pluralidade de esposas? No que diz respeito à natureza, ele usou as mulheres não para gratificação sensual, mas para a procriação de filhos. Por costume, essa era a prática comum naquela época naqueles países. E para as leis, nenhuma proibição existia. A única razão de agora ser crime fazer isso é porque o costume e as leis o proíbem. Quem despreza essas restrições, mesmo que use suas esposas apenas para ter filhos, ainda assim comete pecado e prejudica a própria sociedade humana, por causa da qual é necessária a procriação de filhos. No atual estado alterado de costumes e leis, os homens não podem ter prazer em uma pluralidade de esposas, exceto por excesso de luxúria; e assim surge o erro de supor que ninguém jamais poderia ter tido muitas esposas, a não ser por sensualidade e veemência de desejos pecaminosos.

Agostinho Contra Fausto, XXII.47

A nossa cultura

Sob a palavra “costume” podemos compreender o conceito de “cultura”, de modo que ambos são utilizados quase que como sinônimos. E aqui temos o primeiro argumento contra a poligamia pensando neste âmbito cultural. Agostinho, buscando defender a escritura contra a sensibilidade romana e grega, cria uma lei esquizofrênica em Deus, de modo que uma coisa que não era luxúria passa a ser (baseada nas leis dos homens).

Como notamos no nosso artigo anterior, não faz sentido acusar os hebreus de apenas seguirem a cultura da época em que viviam. Ora, quem não garante que a preocupação contra a poligamia não é, ela mesma, influência da cultura em que eu vivo, e de que os crentes do AT é que seguiam as permissões de Deus? O argumento cultural é uma mera suposição, pois não tem como provar que algo é da cultura deles ou nossa.

Sempre que estes homens alegam que algo é fruto da cultura de alguém e que a nossa cultura é distinta, sempre julgará como pecador aquele que tem uma cultura diferente da nossa. Isso explica muita coisa.

Além disso, Agostinho sujeita as permissões de Deus e o que é pecado ou não ao ambiente cultural – por isso é tão amado por homens que acusam os costumes nos outros. Veja, mesmo no Novo Testamento o pecado é aquilo que contraria a Lei de Deus (1 Jo 3:4; Rm 4:15 etc. – confira nosso texto “O que é a Lei de Deus?”). Se Agostinho diz que agora o pecado é também porque contrariamos costumes, o que ele faria quando o costume for contra algo que Deus não proíbe? O que dizer dos crentes que se levantam contra ordens estatais que não são pecaminosas em si (como, por exemplo, usar uma máscara)? Todos estes estão em pecado?

Por último, note que a preocupação de Agostinho (e de muitos teologuinhos) é a de que “prejudica a sociedade humana”. Isso é a prova de o quanto ele era romano, e influenciado por sua própria cultura – assim como os homens atualmente. Deus permitiria e até concederia esposas se isso fosse ativamente prejudicial à sociedade humana?

A cultura deles

Agora perceba o quanto este argumento é falho se formos considerar o âmbito cultural dos hebreus. Você até poderia dizer que o ambiente cultural até Jacó era poligâmico (o que já seria mentira), mas não poderia explicar como, mesmo depois dos egípcios favorecendo à monogamia, ainda havia forte poligamia entre os hebreus a ponto de Deus nunca contradizer ela. Veja, os egípcios eram monogâmicos (razão suficiente para explicar a monogamia de José) e não se permitia casar com mais mulheres de modo algum, exceto as relações comuns de concubinato sem casamento. Ora, após anos no Egito, em meio a uma cultura monogâmica, seria muito menos difícil Deus proibir a poligamia entre os hebreus, visto conhecerem e crescerem neste contexto. Deus, que exige que venhamos a fazer atos simples como dar graças pelo que comemos (1 Tm 4:1-5) até atos mais difíceis como dar fim aos ídolos e ao adultério (Js 24:14 [texto mostrando que os israelitas não deveriam adorar divindades egípcias]), jamais exigiu o fim da poligamia com vistas na cultura dos outros.

Poderíamos ainda apelar, e dizer que os cananeus eram poligâmicos e que, portanto, os hebreus absorveram isso da cultura deles. Mas em Levítico, que alerta para não se praticar as obras dos cananeus (Lv 18:3), não há alerta contra as práticas poligâmicas. Vejamos com calma:

Não fareis segundo as obras da terra do Egito [que eram monogâmicos], em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã [que provavelmente eram poligâmicos], para a qual vos levo, nem andareis nos seus estatutos. (Levítico 18:3)

Não devo ser monogâmico ou não devo ser poligâmico? Bom, o assunto do texto não é este, pois quando Deus vai enumerar as obras sexuais praticadas pelos cananeus, entre nenhuma delas se encontra a poligamia masculina simples sendo proibida. Vemos a proibição para:

Não se relacionar com nenhum parente (v. 6) e nem a mãe (v. 7, 8); nem com irmã (por parte de pai ou mãe – v. 9 [Abraão fez isso]); nem com netos (v. 10); nem com sobrinhas (v. 11); nem irmã, filha de sua mãe e pai (v. 12 – já presumindo possível poligamia do pai); nem com tia solteira ou casada (v. 13, 14); nem com nora ou esposa de seu irmão (v. 15, 16); nem com filha e mãe (v. 17); e nem com netos e netas (v. 17); nem uma mulher com sua irmã (v. 18 [Jacó fez isso]); nem durante a menstruação (v. 19); nem com a mulher do próximo (v. 20); e, por fim, nem um homem com outro homem ou animal (v. 23, 24).

Quando o texto resolve falar das obras dos cananeus e egípcios, nenhum versículo condena a poligamia, antes, condena outras práticas destes povos que Deus chama de pecado. Este seria o momento perfeito para Deus proibir a poligamia, já que ele mesmo está buscando proibir o que os cananeus faziam entre si. Ainda assim, vemos que culturalmente Israel tinha bagagem para formar um povo monogâmico, e Deus não fez o mínimo de esforço para que isso fosse encerrado entre o povo dele.

Obs.: alguns hão de dizer que todas as culturas eram poligâmicas porque aceitavam o concubinato. Mas isso é falso, o concubinato era prática comum entre gregos, romanos (pais da monogamia ocidental) e até senhores de escravos recentemente. O ponto é que concubinato (relação sexual e estável com escrava) é diferente de casamento (que implica libertação da escravatura). Um exemplo prático é Levítico 19:20, em que uma mulher noiva escrava não sofre pena de morte por adultério, mas, se liberta e ainda for noiva, sofre (como Tamar sofreria pena de morte em Gênesis). Do nosso ponto de vista monogâmico moderno, Israel permitir o concubinato e a poligamia contratual seria uma maldade até maior do que dos povos à sua volta, que só aturavam o concubinato. Isso mostra que se Deus quisesse, poderia regular somente o concubinato e evitar o progresso em contrato de casamento, mas Ele aprovou as duas coisas.

Um lembrete de que a Lei de Deus é universal

Veja que Deus está julgando os cananeus por uma lei que não tinha sido dada por escrito a eles (Lv 18:25). Deus mesmo diz que os cananeus estão sendo condenados por estas práticas (Lv 20:23). Inclusive, quando Deus se revolta contra os “costumes das outras nações”, ele claramente delineia em todo o capítulo quais são estes:

E não andeis nos costumes das nações que eu expulso de diante de vós, porque fizeram todas estas coisas; portanto fui enfadado deles. (Levítico 20:23)

Não querendo perder o debate para Fausto, Agostinho contradisse a Deus para estabelecer o próprio costume e não soar ao seu inimigo como um depravado sexual que os romanos pensavam ser os judeus. Porém, note, a Lei de Deus é universal e por isso Deus condena os cananeus mesmo sem nunca terem ouvido dos costumes hebreus. Como podemos ver, se a poligamia fosse condenada por Deus, o seria universalmente, e não somente por um costume.

Mais ainda, os povos babilônicos (que levaram Israel ao cativeiro posteriormente), gregos (que até tinham cálculo para provar que o casamento é entre 1 homem e 1 mulher, mesmo se a mulher morrer) e romanos eram todos monogâmicos – claro, tudo por imposição estatal, afinal, a curto prazo, a monogamia se mostra economicamente viável, e mais controlável. Não irônico, Roma só teve dificuldade de controlar os judeus e os persas (estes sim, poligâmicos). Israel estava com culturas maiores e mais desenvolvidas mergulhadas na monogamia, acha mesmo que teria sido “a cultura da época” aquela que criaria nos hebreus a necessidade pela poligamia?

Obs.: entre os seguidores de Pitágoras se convencionou que o número 2 era feminino e o 3 era masculino, sendo o número 5 equivalente ao casamento, de modo que passar deste número ou ficar aquém dele seria uma deturpação do casamento (meu bom Deus, de onde tiraram isso?). Cf. essa informação aqui.

Os egípcios eram culturalmente monogâmicos; os babilônicos eram por necessidade econômica; os gregos por motivos filosóficos e os romanos por motivos jurídicos (imagine a dificuldade de dividir a herança na mão do Estado pra famílias poligâmicas?). Não estamos dizendo que a coisa era exatamente assim, afinal, em todos houve motivo jurídico, filosófico, econômico etc. Mas algumas coisas são mais evidentes em alguns ambientes, além de, historicamente, poder faltar informação (pode ser que os egípcios o eram mais por motivos jurídicos, mas pela falta de acesso à materiais que provem, se presume uma mera aceitação por costume).

PAIXÕES

E ela [Sara] deu a seu marido sua serva não para satisfazer a paixão dele, mas para lhe dar descendência.

Agostinho, Contra Fausto, XXII, 33

Ascetismo grego

O ascetismo grego foi uma daquelas ideias de que o homem deve evitar suas “paixões”. Não sem motivo, Agostinho equaliza “pecado” e “paixão”, em seu livro Do Livre Arbítrio. Pois bem, diga-se que paixão é pecado, mas em que sentido isso? Porque, de acordo os teólogos atuais, toda paixão desordenada é pecado. Quando, na verdade, Deus ressoa fortemente que o pecado é transgressão de uma lei, ou seja, o ultrapassar uma linha. Quem pode dizer qual é o nível adequado de paixão? Contudo, o desejo pela mulher do próximo, forte ou fraco, é pecado, independente do nível de desejo. Vê como a Lei de Deus é clara e direta no que diz respeito às “paixões”? Paixão é só uma daquelas categorias filosóficas que entrou no Cristianismo e o tornou domesticado.

Augusto Comte, ‘ateu’, que cria que vivemos a fase racional da humanidade, era contra o recasamento, mesmo após a morte de qualquer um dos parceiros, algo que ele chamava de poligamia sucessiva (o que ele tinha em comum com os pais da igreja? A Filosofia Grega, claro) – tudo porque ele cria que a razão favorece a unidade e a simetria. A unidade e simetria é uma ferramenta boa para a ciência, mas não para a teologia, que se fundamenta em como Deus ordena as coisas e não em como queremos compreendê-las (que sempre é o caminho supostamente mais simples). Para a dialética deles, um homem não pode amar mais de uma mulher – muita tolice e contradição com o texto bíblico, principalmente se olharmos Cântico dos Cânticos, escrito por Salomão já após ter algumas esposas… o livro mais romântico e amoroso da Bíblia é fruto do amor poligâmico, diferente desse ascetismo dialético. No fim, a monogamia é favorecida pela filosofia no Cristianismo e não pelas Escrituras.

Como alguém pode dizer que há paixão quando um homem se casa com duas mulheres? Deus mesmo se casou com duas, ao se casar com Israel do norte e Judá (Ez 23), seria Deus condenado como pecador por “ceder” às paixões?

Além disso, essa baboseira presume que um homem precisa ser contido, ou seja, tem que se contentar com o que possui. Ora, em nenhum lugar nas Escrituras isso é dito, exceto, quando o seu desejo de possuir algo seja o desejo para possuir algo que é de outra pessoa, e não do que está à venda, por exemplo. Se o contentamento é se satisfazer com o mínimo, deixemos nossas casas, trabalhos e o ganho de dinheiro que é maior que o de qualquer época na história do mundo, e nos voltemos ao ascetismo “cristão”, que só serve para condenar inocentes.

Virgindade Romana – a deusa

Além disso, o que você diria se soubesse que a principal divindade romana, por muito tempo, foi cultuada sendo “sempre virgem”? Vesta, a divindade romana que mais fazia sucesso, o fazia por propor um ideal de vida para as mulheres e no lar: ela era virgem, e a perda da virgindade poderia até custar a vida. Não é sem razão que em Roma é que os crentes ficam extremamente preocupados com a virgindade… Se você soubesse quanta coisa pegamos dos romanos ficaria assustado.

De qualquer modo, se a mulher deve ser virgem (na cabeça do romano) o deve ser o homem também, logo, se forem padres, com certeza não seria uma boa coisa se casar e também não o seria se relacionar sexualmente. A cultura romana, apesar de muito aberta sexualmente, tinha entre seus ideais a “pureza sexual”, algo que só não era mais popular porque precisava de uma religião que influenciasse suficientemente as pessoas. Agora, depois que essa religião chegou, todas as pessoas passaram a esconder sua vida sexual (tudo bem, é verdade que diminuiu a prática sexual desenfreada). Você acha mesmo que essas paixões sexuais seriam permitidas por Deus e, de repente, proibidas no NT, coincidentemente no meio romano? Suspeito, bem suspeito…

Essa deusa era tão relevante para os romanos que Lívio, Plutarco, Dionísio e Halicarnasso a consideram em grande estima; isso, sem contar as Doze Tábuas de Roma (Lex Duodecim Tabularum) – fundamental para o Direito Romano – que na quinta tábua ainda se dedica a cuidar das posses das virgens de Vesta, tanto era o valor dessa deusa e da virgindade atrelada a ela. Algo que faz total sentido, visto que Vesta seria a mãe “fundadora” de Roma. Assim, toda a cultura romana girava por pressão em torno desse ideal de pureza. No fim, eliminamos a idolatria, pois ninguém nem sabe mais quem teria sido Vesta, mas o costume continuou, e ainda pensamos que o ideal é o que aprendemos da cultura romana.

Ah, os romanos passaram por crises populacionais, isto é, seu povo foi ficando muito velho e a taxa de nascimento começou a cair (ironicamente, em alguns momentos criam que o mundo estava muito cheio de gente… é muita gente para o Estado gerir, só isso). Povos monogâmicos que duram muito tendem a ter essa tendência à queda na taxa de natalidade. São excelentes para crescerem economicamente e culturalmente rápido, mas morrem lentamente.

De qualquer modo, Vesta apontava um ideal de pureza, com a “fornicação” sendo um grande problema para os romanos, algo que incluía o casamento poligâmico, por extensão. Veja, o senso de pureza e falta de paixão vem da cultura romana e da filosofia grega, com os seus maiores ideais resultando numa suposta pureza sexual que evita a poligamia. Somos herdeiros da moral grega e romana – e por isso temos medo da poligamia masculina.

Nojo e feiúra

Alguns ainda poderão dizer como é nojento imaginar duas mulheres ao mesmo tempo na cama com um homem, ressaltando que isso é por pura paixão, visto que mesmo Jacó não se deitava com Lia e Raquel ao mesmo tempo. Claro que não se deitaria com ambas, elas disputavam entre si! Você não leu o texto anterior? Isso só é nojento para nossa cultura moderna, voltada para o conceito de que um desejo por muitas coisas é paixão e, portanto, é feio (aplicando estética às ordens de Deus) e até nojento.

Este argumento é característico de mulheres que assimilam as coisas pelo que veem e sentem, isto é, não conseguem ter um julgamento para além das aparências, ao menos, não normalmente (é sempre bom colocarmos essas observações no final, porque sempre surge alguém com as exceções, que nada provam além da regra que estamos mostrando – se há exceção é porque “há regra”). Tal coisa é tão tola quanto fraca, e ressalta nossa sensibilidade e não o que o texto bíblico permite. Imagino Salomão tendo que ter relações com uma mulher por vez das mil… que vida complicada seria praticar essa regra.

ECONOMIA E POLÍTICA

É óbvio que a monogamia favorece a economia em curto prazo

Isso não deveria nem ser discutido! Não estamos falando de ciência política ou econômica, estamos falando do que Deus chama de pecado e do que não é pecado! Pode ser que comprar um carro te aperte financeiramente e, talvez, até te leve à falência, mas isso não é por causa de um pecado inerente a se comprar um carro, foi apenas uma forma ineficiente de gerir o seu dinheiro. Se a monogamia favorece a economia, não o é por motivos de santidade ou não, mas sim porque ela favorece o olhar familiar para fora.

Veja este exemplo de Paulo de como a monogamia e até a solteirice favorece um olhar para fora da família:

Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher. (1 Coríntios 7:33)

A Igreja perseguida jamais deveria se preocupar muito com grandes famílias, visto que, como Paulo trata em 1 Co 7, um homem casado se preocupa em como agradar à mulher (e quanto mais mulheres, mais precisa fazer pela família). O que Paulo instruiu não era algo exclusivo do conhecimento dele, já que os governos antes dele quiseram controlar o casamento e a natalidade, pois dessa forma as pessoas serviriam melhor ao Estado e aos fins sociais. Portanto, é natural que a monogamia favoreça qualquer objetivo externo à família, quer seja “o reino”, quer seja a economia, o Estado, o PIB entre outras coisas fora do âmbito familiar.

Obs.: poderíamos mudar ainda: o que é casado cuida de como agradar à mulher, e não de como servir ao Estado (pólis). Não ironicamente, Platão era contra a propriedade privada da mulher (de ser de um único homem – poliandria) para que, não detendo nada próprio, os homens se dedicassem ao máximo à Pólis. Isso está claramente em seu livro A República (423e–424a: “todas estas mulheres serão esposas em comum com todos os homens, e nenhuma delas viverá privadamente com qualquer homem; os filhos também devem ser mantidos em comum, de modo que nenhum pai saiba qual é o seu próprio filho e nenhum filho conheça seu pai.”). Para Platão (e os gregos), até mesmo ter uma mulher ou um marido seria impedimento se você é guardião da cidade. Bem intrigante, não é?

Chamar a poligamia de pecado por causa da economia prova que amamos mais o dinheiro do que a verdade e a Lei de Deus. Estes mesmos aí são os que amam quando os outros são pobres para o benefício da igreja, mas querem destruir a família que Deus nos permite ter.

O Estado não permite, e devemos obedecer às autoridades

É verdade que devemos obedecer todas as autoridades que Deus pôs sobre nós, isso é inegável, principalmente baseado no fator de que as autoridades são instituídas por Deus (Rm 13:1 em diante). O problema começa com o limite de obediência. Ora, vimos no texto anterior que mesmo o Egito sendo monogâmico Israel se multiplicou poligamicamente sob o poder de Faraó, embora José se mantivesse monogâmico. Além disso, no NT é bem evidente o modo que Paulo argumenta, evitando atritos desnecessários com as autoridades.

Então, onde está a linha que permite eu me casar poligamicamente em um Estado contrário? A questão é simples: antes e acima de tudo é não considerar a poligamia masculina pecado. Se você fizer isso, não importa o que o Estado diga, você jamais julgará seu irmão de modo injusto, testemunhando falsamente contra ele; antes, saberá que, mesmo que possa estar desobedecendo uma autoridade humana, não estará quebrando nenhum mandamento de Deus no que diz respeito ao estabelecimento familiar.

Segundo, o texto de Êxodo 1 nos permite notar que a população comum tem o direito dado por Deus de ter suas esposas de modo poligâmico, enquanto as autoridades estatais (como José) devem ser modelo exemplar da estrutura do Estado, portanto, evitando a poligamia em um governo que a proíba. Quanto mais em evidência um cristão estiver politicamente, menor deve ser o anseio dele pelo casamento poligâmico, a menos que viva em um Estado que o permita (o contrário disso pode suscitar até mesmo perseguição religiosa).

Obs.: lembre-se que, segundo a Escritura, o contrato de casamento se dá entre o marido (ou seus pais) e os pais da moça, portanto, o fato de o Estado não dar o contrato de casamento não significa que não há casamento. O casamento se dá independente do Estado e sua burocracia deve ser obedecida, mas não podemos confundir o que o Estado chama de casamento com o que a Escritura chama de casamento. Não queremos nos levantar contra os governos humanos, apenas separar as coisas devidamente entre o que Deus permite e o que o homem estabelece.

TEOLOGIA

Os argumentos teológicos são tolos quase tanto quanto os anteriores. Mas eles costumam ter uma coisa que não há nos anteriores: aquele senso real de piedade, de abnegação e de sofrimento (desnecessário?) que todo crente deve ter. A aparência de piedade não deveria ser motivo para nos apegarmos às coisas, e nem se quer a aparência de maldade (que eventualmente achamos estar em algo que Deus não proibiu).

A necessidade de Cristo nascer

Cristo tinha que nascer? É claro! É a promessa de Gênesis 3:15, de que viria da mulher. Note, porém, que alguns teólogos dizem que Deus garantiu a poligamia para dar vazão ao nascimento de Cristo (nem sei como isso faria sentido). Porém, o mesmo texto que é fundamental é o que os derruba. Veja, Gênesis 3:15 é o único texto que fala sobre a “semente da mulher” ao invés da semente do homem (a Abraão, por exemplo, se promete a descendência pela sua semente). Considerando que mulheres não ejaculam espermatozoides, isso deve significar algo, pois está eliminando o homem da equação (e, por lógica, a necessidade da poligamia) – e mostrando que o nascimento do Salvador seria, já provado aqui em Gn 3, virginal, sem a necessidade da semente masculina.

Não existe razão para crer que Jesus só nasceria por causa da poligamia, primeiro por causa do que vimos acima, já que não havia necessidade se quer de um homem para o nascimento de Cristo, segundo que basta lermos Mateus 1 para notarmos que a genealogia de Jesus nunca precisa de “duas mulheres ao mesmo tempo”, mas somente uma após a outra, isto é, uma descendente da anterior.

Gênesis 2 é o ideal de Deus

Já explicamos Gênesis 2, mas aqui cabe um detalhe: seriam os profetas burros? Ora, Jesus mesmo diz, em Mateus 19, que o que Deus criou é o modo que as coisas devem ser, e cobra dos fariseus e seus discípulos (lembre-se que Jesus ainda estava sob o AT), de modo que não faz sentido dizermos que Gênesis 2 era um mistério para os crentes do AT. A propósito, o texto é tão claro que deveria fazer os monogâmicos desconfiarem da monogamia presente no texto sem que ninguém tenha notado isso em todo o AT. Todo mundo aponta para Gênesis 2, um texto que diz haver uma mulher para um homem somente. Não temos aqui nada que se assemelhe a uma grande obra oculta, misteriosa ou que precisasse de mais revelações: o texto estava lá. Assim, quem precisa provar como Gênesis 2 passou eras sem ser compreendido é justamente quem defende a monogamia.

Alguns ainda dirão que, como Deus tolerou o divórcio, assim ele tolerou a poligamia. Essa comparação é tola, pois, como argumentamos em nosso texto sobre Divórcio e Casamento, na lei estava claro que o divórcio foi dado pela dureza do coração, mas que a prática estrita dele não é e nunca será pecado em si (além do fato dele não anular o casamento). Ora, se essa é a conclusão do divórcio, certamente pode ser da poligamia, já que querem se valer das comparações. Além disso, Deus nunca deu o divórcio como presente a ninguém, mas deu mulheres a Davi como prêmio: ora, o que é isso? É a clara prova de que a comparação da poligamia com o divórcio não faz o menor sentido, a menos, é claro, que você creia de antemão que tanto o casamento poligâmico quanto o divórcio seja pecado.

Crer na poligamia ao chegar no texto bíblico é receita para achar que ela está certa

Mas o monogâmico chega ao texto crendo que a monogamia é o padrão de Deus, e acusa-nos de chegarmos no texto crendo na poligamia: hipócritas sempre acusam a si mesmos ao acusarem os outros. Não vê que você tem chegado ao texto bíblico crendo ser a monogamia o padrão de Deus? Ora, se ela é o padrão de Deus a própria análise do texto bíblico provará, mas isso não ocorre, porque quer cheguemos no texto crendo na poligamia ou não ela está lá. Se você pensa nisso não precisa ler os textos seguintes, pois já está fechado em seu entendimento cultural, e não concorda com o texto bíblico.

A misericórdia de Deus – que só teve misericórdia com este pecado: dois pesos?

Outros ainda dirão que sempre foi pecado mesmo, mas por causa da misericórdia de Deus a coisa foi sendo adiada até o Novo Testamento. Tal argumento, além de tolice, é indecente. Quando, no NT, Deus reconhece que a ignorância ou desconhecimento é um argumento para a misericórdia, isso é dito já se considerando a existência da lei sobre aqueles pecados (At 17:30), não faria sentido que Deus, o Deus perfeito, de repente mudasse de ideia, e começasse a tratar e ensinar as coisas distintamente.

Mesmo, por exemplo, não havendo pecado onde não há lei, os homens sofreram as consequências dos seus erros. Jacó, que se casou com duas irmãs, as teve o tempo todo em disputa (Lv 18:18), não sendo jamais algo que passou sem alguma consequência. Porém, a poligamia ainda é praticada até mesmo hoje no mundo sem consequência alguma. Deus e sua Lei é que são desprezados em suas permissões.

Além disso, o que seria se Deus permitisse um pecado e não outro? Um peso e duas medidas? Ora, o salário do pecado é a morte (Rm 6:23), logo, não podemos assumir que para todos os outros pecados Deus estabeleceu a pena de morte, mas deixou apenas este sem punição. Isso, inclusive, contraria aqueles que nos dizem, com frequência, que não podemos ter pecados de estimação! Se Deus permite este pecado por uma necessidade qualquer, então Deus tem um pecado de estimação. Como vimos, Deus condenou todo tipo de pecado sexual ainda em Levítico, e jamais absteve-se de condenar nada, por menor que parecesse. A conclusão dos homens sobre a falta de condenação de Deus para isso é só uma daquelas evidências de que o que fala mais alto neles é um senso moral herdado de pagãos e não de Deus.

Cristo só tem uma esposa

Cristo tem uma só esposa no Novo Testamento (só para garantir, já que no AT Deus tem duas…), então isso só pode apontar a necessidade de que o nosso casamento tem que concordar com o de Cristo – dizem os monogâmicos.

Mas em nenhum lugar é dito que temos que imitar o casamento de Cristo e a Igreja em todos os aspectos, e sim de que as mulheres devem se submeter aos maridos e os maridos amarem as mulheres. A relação numérica nunca foi apresentada como modelo do casamento de Cristo para o homem.

Estes mesmos que argumentam assim são contra as mulheres obedecerem cegamente aos seus maridos, embora na relação de Cristo e a igreja esta deva seguir a Cristo “cegamente”. Eu poderia acrescentar um milhão de coisas que estes mesmos não aceitam na relação de Cristo e a igreja aplicada entre marido e mulher(es): poderia nossa união ser somente espiritual? Poderia o homem ir embora para “voltar depois de um tempo”? Certamente que não… mas por uma razão própria querem que o exemplo de Cristo e a igreja se aplique ao aspecto numérico.

Poderia até mesmo questionar de outro modo: se Cristo quiser não poderia ter outra igreja como Deus fez com Israel e Judá? Veja que o problema é claro e simples: a igreja pode sentir ciúmes de Cristo? Nem faria sentido perguntar isso, mas os inimigos são tantos com tantos questionamentos que não podemos ignorar algumas nuances.

Além disso, se Cristo fosse representado com duas esposas, isso confundiria tudo ainda mais! Veja, a igreja deve ter unidade. Como a unidade é representada no casamento entre Cristo e seu povo? Somente se Cristo tiver um “único povo”, uma “única igreja” e, portanto, “uma única mulher”. Deus mesmo quando se trata de seu casamento poligâmico com Israel e Judá, o faz porque havia divisão entre o povo, causando a necessidade de que isso fosse explicado deste modo. Sabemos que a divisão é ruim, de modo que no caso de Deus com seu povo duas esposas significa “divisão”; porém, quanto aos homens significa “multiplicação” (como notamos comentando Êxodo 1).

Revelação Progressiva

Não é incomum que se diga por aí que o progresso da revelação é que faça essa distinção entre a proibição no AT e no NT, mas como já argumentamos em outros textos, revelação não é igual lei. Deus revelou a Paulo coisas que nenhum crente teve acesso, e Paulo continuou guardando isso para si (2 Co 12). Ora, se isso fosse uma lei, Paulo pecaria em guardar ela para si, visto que o conselho de Deus não pode ser restringido. Como estes homens não entendem que a Lei de Deus cessa em Deuteronômio, só conseguem ler a bíblia por uma ótica de “pecado / não pecado” e não de “pecado / sabedoria / administração” por exemplo, tornando os crentes pecadores de coisas que, eventualmente, a bíblia apenas diz que seria bom não fazermos (mas não por causa de pecado).

Mesmo assim, se ainda considerarmos a progressão da revelação, nada mudará, pois como provaremos nos textos seguintes (sendo o próximo sobre a poligamia nos profetas), Deus é consistente em permitir a poligamia tanto no AT quanto no NT, e o progresso da revelação apenas reforça isso, do contrário, não seria um progresso, mas um regresso. Em nossos textos sobre As Divisões da Escritura e sobre a Escritura no Primeiro Capítulo da Confissão de Fé de Westminster deixamos claro que não é sem motivo que somente a “Lei” (o pentateuco) é chamada de “lei”, portanto, o que ela não proíbe, não pode ser pecado.

Obs.: há um argumento, normalmente de liberais, de que a poligamia existia por causa do contexto tribal de Israel. Além do fato de “tribal” não significar nada como argumento, isso implicaria dizer que algo da “civilização” está certo. Porém, os civilizados Gregos e Romanos é que tinham festas idolátricas e faziam uso de magia em rituais aos falsos deuses. Por outro lado, os gregos, desde que se sabe, eram monogâmicos mesmo quando ainda eram tribos, portanto, qual relação seria realmente tribal?

HISTÓRICO-TEOLÓGICO

A necessidade de povoar a Terra

Deus teria permitido para povoar a Terra – o argumento do educadinho. O problema é que sabemos o que Deus permitiu para povoar a Terra. Por exemplo, sabemos que um irmão casar com outro é pecado (Lv 18:9, 11), mas os filhos de Adão casaram entre si (porque, como Paulo cansou de dizer: onde não há lei não há transgressão – Rm 4:15 [justamente falando deste período antes de Moisés]). Assim Abraão se casou com Sara, sendo sua irmã, e o pai de Moisés se casou com a própria tia (Êx 6:20), sendo isso proibido em seguida (Lv 18:14) – tudo isso para que a Terra fosse povoada, do contrário, tudo acabaria nos filhos de Adão e Eva. Mas onde está a proibição da poligamia? Se estas coisas podem ter sido permitidas para que houvesse crescimento populacional, onde está a proibição de todas elas? Não faz sentido que Deus use dois pesos nisso… e só nisso.

Além disso, o único texto que realmente nos levaria a crer diretamente que o objetivo de Deus com a poligamia seria povoar a terra é Gênesis 25, no qual Abraão se casa com Quetura. Mas mesmo este texto não provaria que este é o objetivo da poligamia, pois ali Abraão já havia perdido Sara e, ainda por cima, não temos como saber se Hagar estava viva. Portanto, o único texto favorável ao entendimento não favorece este entendimento.

A Igreja sempre viu assim, é a nossa tradição

Este argumento está cheio de uma série de pressupostos, portanto, me deterei apenas em um ou dois pontos (além de este ser uma variação do primeiro argumento cultural):

Que a igreja sempre viu assim após o fechamento do NT não é surpresa. Como notamos, o ambiente filosófico e cultural favorecia este pensamento na igreja (acha que só os crentes do AT erravam?). Os Pais da Igreja, em uma revolta contra o judaísmo, também quiseram se desvencilhar das interpretações judaicas e, para não haver um vácuo hermenêutico, foi necessário adequar a filosofia grega e romana ao texto bíblico e vice versa. O que tivemos foi essa invasão, sem liberdade mental da noção grega de casamento.

E por qual motivo eu deveria preocupar-me com isso? Cristo mesmo mostrou que se não cremos na lei não é possível crer nele (Jo 5:46), jamais disse que deveríamos crer na história da igreja, ou nos membros em particular, como forma definitiva. A história da igreja não é boa juíza, pois temos desde homens que condenavam como adultério o casamento de um padre (dizendo ser ele casado com a igreja – tornando ela adúltera [pois é casada com Cristo]) até homens (crentes?) como Carlos Magno e a cidade de Münster com a prática poligâmica. Essa loucura de que a história da igreja resolve as coisas só é possível para quem faz os recortes que quer da história para favorecer a sua própria filosofia e não para concordar com a Escritura.

Obs.: seguimos um tipo de “Solo Scriptura”, mas não do tipo que nega que não se aprende com a história da igreja, afinal, só sabemos de algumas coisas porque outra pessoa nos contou, visto que não tínhamos notado no texto bíblico! Porém – argumentam os romanos – só a igreja atesta a Escritura. Mas eles mesmos dizem que o Catolicismo foi fundado pelas palavras de Cristo a Pedro, o tornando fundador do catolicismo romano (ICAR). Se isso é verdade, então a própria Igreja é fundada pela Escritura (onde está registrada tal fala), e não fará diferença estes argumentos de suficiência material etc. O contrário disso é cair no argumento da circularidade (que romanos odeiam [por causa da filosofia], mas que Deus usa sobre sua Escritura, que atesta a própria inspiração). Outro detalhe é que o AT só chegou a nós, em parte, por causa do cuidado dos fariseus, que o mantiveram com muito ‘carinho’. Veja, o mesmo texto que eles preservaram os contradisse tanto em sua letra quanto em seu espírito, então, não podemos supor que porque a ICAR possa ter sido relevante para a preservação do texto bíblico automaticamente significará que ela não possa ser contraditada por ele. A Escritura é o único livro que pode “cuspir no prato que comeu” (não é a bíblia que vivia condenando os israelitas, estes mesmos que receberam a Escritura de Deus?)

Por fim, estamos argumentando que claramente não houve defesa da poligamia que fosse consistente durante a história da igreja, portanto, como poderíamos citar “homens respeitáveis” sobre o assunto? Qual autoridade poderia nos auxiliar? Ademais, a autoridade do menor sempre vem do maior, e se a Escritura favorece a poligamia, ela é a autoridade maior sobre nossa crença, e não homens individuais durante a história da igreja – a autoridade deles nada acrescenta à Escritura. Só alguém estúpido esperaria argumentos a partir de outros homens em um assunto que claramente não foi bem tratado durante a história da igreja.

A misericórdia de Deus para com as mulheres em uma sociedade patriarcal

Oh, iluminados do século XXI, o que seria de Deus e sua Lei se não tivéssemos, só depois de pelo menos 6 mil anos de história humana, alcançado o fim desse modo de vida patriarcal. Somos os iluminados, únicos, a quem Deus revelou coisas que nunca foram ditas antes! – tolice.

Outros povos eram monogâmicos e ainda assim tudo dava certo em culturas patriarcais, não faz sentido que Deus tenha permitido isso a Israel por causa de algo que entre povos vizinhos não era praticado sob mesmas circunstâncias. Que situação feia estava Israel, que enquanto as outras nações não precisaram da poligamia para cuidar das mulheres os hebreus tinham que a praticar…

A misericórdia de Deus é demonstrada pelo fato de que tal relação poligâmica não é pecado e nunca será, não de que ela tenha existido para suprir uma necessidade contextual temporária.

Obs.: há um livro que resume um pouco do assunto da poligamia na História da Igreja chamado After Polygamy Was Made a Sin: The Social History of Christian Polygamy [Após a Poligamia Virar Pecado: A História Social da Poligamia Cristã], de John Cairncross. A leitura pode ser interessante para se notar como que a poligamia foi vista pela igreja, mas não em se ela é correta ou não segundo as escrituras.

ALGUMAS ALEGRIAS DA POLIGAMIA

É evidente que não queremos fazer este texto grande, visto ser um mero complemento da parte 1, mas não podemos terminá-lo sem ressaltar alguns pontos que a própria experiência tem demonstrado na vida das famílias poligâmicas. Ah, e por favor, não confunda isso com a poligamia das seitas como o mormonismo, islamismo (que nada mais é do que uma seita “cristã”) e judaizantes, estes não conhecem a Lei de Deus de fato, pois oscilam em revelações e tradições inventadas. E Deus não mais revela nada de novo desde o fim de Israel, no ano 70 d.C. E, como as profecias eram destinadas aos judeus e cristãos primitivos (Rm 3:1, 2; 1 Co 14:21, 22 [Paulo cita a Lei mostrando que estes dons eram para sinal do julgamento que ocorreria sobre os judeus], Dn 9:24 [‘selar’ a visão e a profecia é encerrá-las após o julgamento previsto em Daniel 9 {1 Co 13:9, 10 também prevê este mesmo fechamento das profecias e visões}]), não devemos esperar que Deus dê novas revelações, antes, que ele nos confronte com sua palavra.

Fim da desconfiança e estresse

No artigo anterior vimos que Números 5 prova que somente o homem pode ter ciúmes no casamento, o que, de outro modo, mostra a falta de necessidade de que as mulheres vivam em ciúmes dos maridos, desconfiança e temor. Como o apóstolo Pedro mesmo coloca claramente, a mulher é o vaso mais fraco (1 Pd 3:7), então, espera-se que ela não consiga lidar com o sentimento de ciúmes, estresse e desconfiança do mesmo modo que eventualmente um homem lida. Ora, a poligamia não só produziria mulheres menos estressadas e ciumentas, mas mais felizes e contentes, por saberem que não precisam ficar conferindo roupas, celulares e cheiros no marido, na expectativa de que ele a esteja traindo. Num mundo onde a poligamia é comum, não é uma necessidade o sofrimento desnecessário por parte da mulher.

O mesmo vale, de certo modo, para os homens, que ficam tristes por desejarem moças (não mulheres casadas) que gostariam que fossem suas esposas. Lutas internas, conflitos de “identidade”, tristeza por um pecado que não existe e cansaço da vida são coisas comuns a um homem que não tem o direito de ter mais outra esposa, pois pensa de si mesmo só a maldade e do quanto é incapaz de seguir este mandamento de Deus (que nada mais é do que tradição humana).

Ajuda em casa

Outro caso interessante é o da ajuda em casa. Aqui nos EUA, embora haja leis contra a poligamia, não é raro encontrar famílias cristãs poligâmicas, e em algumas, inclusive, o marido precisa ficar longos períodos longe de casa (estou falando dos que são convocados para guerras, por exemplo). Num caso como este, uma mulher sozinha (talvez com filho) fica a mercê de parentes distantes ou do cuidado de alguns(as) amigos(as). Nada disso é problema num relacionamento poligâmico, onde as duas esposas (ou mais) se ajudam mutualmente, com uma consolando a outra e ajudando em casa.

A Verdade é que, embora a monogamia favoreça um olhar do homem para fora do lar, é na poligamia que ele pode conseguir um melhor equilíbrio dos cuidados da casa. É claro que, por outro lado, terá maior necessidade de dividir a sua atenção, pois não pode esperar chegar em casa e sempre ter uma ou duas mulheres para fazer sexo. Antes, deve ser cordial e viver a vida do lar (1 Pd 3:7). Então, a poligamia garante que a necessidade de o homem produzir para dentro de casa diminua no sentido de não precisar cuidar dos afazeres domésticos tanto quanto na monogamia, por outro lado, há maior necessidade de “passar tempo de qualidade”, já que agora terá duas ou mais mulheres com quem dividir atenção e momentos.

Cuidado dos filhos

O cuidado com os filhos é, sem dúvida, um dos mais difíceis, ainda mais dependendo do tipo de coisas que os pais desejem para eles. A Poligamia não causa confusão na cabeça dos filhos, antes, aponta para eles melhor ainda o papel de liderança masculina e submissão feminina – fica tudo muito mais claro. Também fica mais fácil em nível educacional (uma grande preocupação moderna, mas que não é pecado, claro), visto que agora ele pode ter a capacidade e ensino de “duas mães”, ao invés de uma que, talvez, não daria conta ou não saberia algumas coisas. Famílias unidas tendem a ser mais fortes, ainda mais se a preocupação dessa família em particular for a de fazer homeschooling.

Contentamento do homem

Na nossa cultura aprendemos que contentamento é uma coisa meramente interna, algo que só existe se formos totalmente abnegados e entregues à disposição para a pobreza e o mínimo possível mesmo sexualmente (diriam alguns Pais da Igreja que o sexo só é para reprodução e nada mais – era um mal necessário). Herdamos isso, de certa forma, da Idade Média, em que a quantidade de festividades proibia as relações sexuais com frequência, tornando os homens mais dados à violência sexual, pela pressão imposta sobre eles, não só das guerras, mas também por causa das mais de 100 festas anuais que implicavam uma obrigação de ‘castidade’ (novamente, pressupondo a impureza do sexo). Ironicamente foram os puritanos que quebraram mais fortemente essa preocupação católica romana excessiva, embora tenham mantido vários níveis de ‘pureza sexual’ que não eram, também, necessárias.

Contudo, este não é o nosso assunto, o mencionei apenas para notarmos que temos uma grande dificuldade de aceitar que alguém (um homem em particular) possa ter um desejo sexual elevado e, portanto, precisa de uma satisfação maior. Isso era para ser algo normal, pois enquanto um não se satisfaz com uma quantidade de coisas e busca mais sem pecar por isso, é natural que alguém possa desejar na área sexual mais. Um homem com duas esposas pode ter problemas em dobro (como Jacó), porém, também, teria bênçãos em dobro, considerando que quem acha uma esposa acha uma bênção de Deus (Pv 18:22). Não podemos ignorar que um homem assim vive mais satisfeito, e poderá até mesmo ter mais filhos, criando uma família mais feliz.

Foco no lar

Uma das preocupações modernas é que as mulheres e os homens estão cada vez menos voltados para o lar. A novidade disso é que agora essa informação está sendo veiculada, mas, como notamos mesmo em A República de Platão, este objetivo era presente em sociedades mais antigas, nas quais se buscava o comprometimento máximo dos homens com a guerra ou com a política. O contrário, porém, que é o caso da poligamia, cria um foco interior, isto é, no lar, buscando o cuidado das esposas e filhos. Ora, isso não quer dizer que toda família poligâmica será assim tanto quanto não quer dizer que uma família monogâmica seja necessariamente voltada para fora de si. Estamos falando sobre foco geral, e a menos que você seja nominalista a ponto de não perceber influências gerais, é óbvio que não estamos falando de casos absolutos: o mundo não é quadrado.

Veja que mesmo que as mulheres trabalhem fora, não haverá necessidade que ambas trabalhem ou que tenham empregos de uma carga horária grande (como é comumente no Brasil: 8hrs). Veja que isso cria um ciclo: as mulheres dependem menos de trabalhar para fora, e podem ficar mais tranquilas em casa, com os seus afazeres comuns, numa vida mais tranquila. Não fomos chamados para uma missão vocacional no mundo dos negócios (no sentido popular que se tornou ideia comum por causa dos puritanos); somos somente pessoas querendo viver uma vida tranquila e comum (1 Tm 2:2). Chesterton mesmo diz algo curioso, relevante para o nosso contexto, que é a ideia (popular) de que as mulheres são escravas quando servem aos maridos, mas livres quando obedecem aos patrões – como se estes últimos tivessem como foco o bem estar total delas. Não precisamos nos render a este tipo de vida para fora do lar, numa missão que não é nossa, numa briga que não compramos.

O foco no lar será o resultado e a causa da nossa alegria num mundo em que a poligamia masculina é praticada e não acusada, dando às mulheres mais segurança de que as outras relações de seu marido serão dentro do contrato e diminuindo até mesmo a chance de trazer doenças de fora do lar.

Em nosso próximo artigo retornaremos ao puro texto bíblico, expondo a poligamia nos Profetas (contando os livros chamados “históricos”) e veremos como podemos aprender com eles aquilo que Deus não proibiu em sua Lei.

  • Conclusão:

Vimos que nada sugere que a poligamia masculina seja contra a boa experiência;

A maior parte dos argumentos contra a poligamia são míopes, por verem o mundo somente da nossa perspectiva;

A poligamia masculina favorece a alegria e estabilidade no lar, quando praticada de acordo à estrutura permitida por Deus.

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